segunda-feira, 17 de maio de 2010

Esbanjando história, Londres busca o novo criando atrações

À beira do rio Tâmisa, Londres, com seus 8 milhões de habitantes, já foi Londinium, quando em 55 a.C., o exército romano invadiu a região e se instalou em Southwark, bairro onde atualmente estão a galeria de arte Tate Modern, uma recriação do teatro shakespeareano The Globe e a roda-gigante London Eye.

Na marcha dos acontecimentos que edificaram a metrópole (cujos sites de turismo oficiais são www.visitbritain.com.br e www.visitlondon.com), um turbilhão de acontecimentos políticos e culturais colocaram a capital do Reino Unido no centro do mundo.

Invadida pelos normandos, em 1066; Londres teve na Torre de Londres uma das mais temíveis masmorras da Europa na Era Elisabetana (1558-1603); esteve no epicentro de uma guerra civil, deflagrada em 1642; enfrentou a peste negra e ardeu em chamas, em 1666; e foi a capital de um império "onde o sol nunca se punha", no reinado da rainha Vitória, que durou 63 anos, de 1837 a 1901.

Pioneira, inaugurou seu metrô, na verdade um trem subterrâneo (ou "Underground Railway"), já em 1863. Incansável, ouviu o poeta -- e autor do primeiro dicionário de língua inglesa -- Samuel Johnson (1709-1784) cunhar o bordão "quem se cansa de Londres, se cansa da vida".

Tempos modernos

Em 1922, a British Broadcasting Company (BBC) fez a primeira transmissão radiofônica mundial ao vivo e, em todo o século 20, a liderança ideológica irradiada pela capital inglesa foi determinante para vencer as duas Guerras Mundiais, que ocorreram entre 1914 e 1918 e de 1939 a 1945.

Depois, Londres assistiu, embevecida e orgulhosa, Elizabeth 2ª chegar ao trono, em 1952 -- e a coroou, em 1953, diante das lentes de sir Cecil Beaton, um mestre inglês da cenografia e da fotografia.

Frenética, a metrópole protagonizou um mundo de transformações culturais que culminaram na explosão pop representada pelos Beatles, uma banda de rock'n'roll nascida em Liverpool e fadada a mudar o mundo com suas singelas canções que falavam de amor.

E não parou aí: continuou a rolar para não criar limo e virou a "Swinging London", exibindo sem pejo a minissaria de Mary Quant, isso nos idos de 1968.

Entre 1979 e 1990, foi a vez de Margaret Thatcher, alcunhada "a dama de ferro", estrelar o papel de primeira primeiro-ministro britânica, num período conservador em que empresas foram privatizadas e ocorreu a Guerra das Malvinas (1982).

Nessa guerra, os argentinos levaram a pior ao reivindicar um exíguo arquipélago quase perdido no Atlântico Sul que os ingleses insistem em chamar de seu e, também, de Falklands.

Um novo milênio

Em 1994, pouco antes do início do século 21, foi inaugurado o Eurotúnel, ligando Londres a Paris por baixo do canal da Mancha por meio de trem de alta velocidade TGV.

E hoje, passadas quase seis décadas da coroação da rainha Elizabeth 2ª, episódios como a morte da princesa Diana, num acidente de automóvel em Paris, em 1997, não tiraram a força da realeza. Crises à parte, a rainha -- que até virou ídolo pop em obra do artista plástico norte-americano Andy Warhol e foi ainda retratada por Lucian Freud --, continua firme no trono.

Em 2002, no jubileu de ouro de seu reinado, uma multidão cercou Buckingham para ver, nos jardins do palácio, uma festa embalada por estrelas de grandezas diversas, caso do ex-beatle Paul McCartney (sir desde 1995) e do metaleiro Ozzy Osbourne, músico heavy metal.

Primeiro na linha de sucessão ao trono, o príncipe Charles estava lá, chamou a rainha de mamãe e deu nela um beijo.

A esquadrilha Red Arrows, da Royal Air Force (RAF) sobrevoou o evento, mostrou que não só "UK rules OK" (em tradução livre, o Reino Unido vai bem) e que a rainha não estava disposta a abdicar tão cedo.

Olho vivo

Outrora cinzenta e fora da jurisdição da chamada City, a região de Southwark, também chamada de Southbank, onde possivelmente alguns dos primeiros bancos do mundo surgiram, passou por uma revolução urbanística e arquitetônica, se transformando numa nova sala de visitas londrina.

Ali, na margem oposta às casas do Parlamento e ao emblemático relógio Big Ben, a roda-gigante London Eye (www.londoneye.com), de 135 m de altura e 1.900 toneladas, normalmente recebe, das 9h30 às 22h, mais de 10 mil turistas diariamente, mostrando, numa margem agitada do rio Tâmisa, a torres e o Big Ben, a sudoeste; o palácio de Buckingham, a coluna de Trafalgar Square encimada pela estátua do almirante Nelson e a sala de concertos Royal Albert Hall, a oeste; o bairro boêmio de Covent Garden, a norte; a catedral de St.Paul, de sir Christopher Wren (1632-1723), o arquiteto da Londres pós-Grande Incêndio, e a pós-moderna ponte do Milênio, a leste, projeto de Monberg Thornsen e sir Robert McAlpine que, aberta em 2000 para levar pedestres da área de Bankside até a City, foi refeita para corrigir um balanço indesejável.

Ao lado da roda-gigante London Eye, outro ícone da Londres de vanguarda é a Tate Modern (www.tate.org.uk), galeria de arte contemporânea que herdou parte do acervo da velha Tate Gallery, rebatizada com o nome de Tate Britain.

Concebida pelos arquitetos suíços Pierre de Meuron e Jacques Herzog usando o mesmo critério de regeneração urbana que pautou o rejuvenescimento do bairro, a Tate Modern ocupa o prédio da velha usina termoelétrica desativada Bankside Power, na margem sul do Tâmisa, e se tornou um dos maiores museus do gênero e faz frente ao Centro Georges Pompidou, o Beauburg, de Paris, e ao Museum of Modern Art (MoMa), de Nova York.

Protagonista de uma cena cultural que se renova, Londres cultiva com igual zelo as instituições culturais de vanguarda e, também, as mais sisudas e tradicionais (veja a programação de museus nas págs F6 e F7), caso do museu Britânico e do museu Victoria & Albert.

E, permanentemente, cria atrações, caso da estátua de aço do escultor indiano radicado na cidade Anish Kapoor, programada para ser uma das mais altas do planeta, com 120 m.

Há inúmeros teatros na área atrás de Piccadilly Circus e, na Gerrard Street, rua no coração de Chinatown, atrás do distrito teatral, restaurantes chineses dividem a cena com animados mercadinhos orientais. Para escolher uma peça clássica ou um animado musical entre os espetáculos em cartaz, visite o site www.officiallondontheatrhe.co.uk.

Conservadora, mas liberal

Se na política o recente embate eleitoral derrotou o trabalhista Gordon Brown e colocou o conservador David Cameron no cargo de primeiro-ministro e o liberal-democrata Nick Clegg como vice, na mais disputada eleição da recente história inglesa, na vida mundana Londres é uma vitrina das vanguardas e do cosmopolitismo.

As plataformas dos candidatos a primeiro-ministro eram até parecidas -- e o que importa agora é saber se o novo governo conseguirá cortar gastos públicos e driblar a estagnação.

Correndo por fora das crise, a indústria do turismo ganha peso, já que geram divisas e é um cartão de visitas do país. Embora a admissão de viajantes seja vigilante no aeroporto de Heathrow, porta de entrada dos voos que chegam do Brasil, a Inglaterra não exige visto de entrada dos brasileiros, mas, diante da sombra de crise econômica, o país deve endurecer critérios de admissão e barrar visitantes que sejam virtuais candidatos a subempregos para extender, ilegalmente, sua estada por lá.

Se você não tem o que temer, vá em frente: escolha Londres como destino da sua próxima viagem e tenha em mãos, ao chegar, documentos mostrando a reserva de hotel, cartões de crédito e até o voucher do curso de inglês que pretende fazer.

Fonte: Folha de S.Paulo