segunda-feira, 10 de maio de 2010

Uruguai: Montevidéu

A pujança cultural de Montevidéu contrasta com o reduzido tamanho e incipiente industrialização do Uruguai. A arquitetura e os hábitos cosmopolitas da população lhe conferem uma atmosfera de cidade européia, que as crises econômicas e políticas do país não conseguiram apagar.

Montevidéu, capital do Uruguai e do departamento de Montevidéu, situa-se na margem leste do rio da Prata, a 180km do oceano Atlântico, junto à baía de Montevidéu. O clima é úmido e temperado. A topografia é levemente ondulada, com altitude média de 22m.

História. A bacia do rio da Prata foi explorada por navegantes espanhóis desde 1520. A margem leste, no entanto, permaneceu sem colonização durante séculos, devido à resistência dos índios charruas, que a habitavam, e da ausência de metais preciosos. Apesar disso, no início do século XVIII, a riqueza pecuária da região passou a atrair o interesse de seus vizinhos. Em 1723 a região foi ocupada por tropas portuguesas, que pretendiam incorporá-la ao Brasil. O governador de Buenos Aires, Bruno Mauricio de Zabala, após expulsar os invasores, mandou erguer um forte, em 1724, na península que fechava a baía, com o objetivo de consolidar o domínio espanhol sobre o território.

Junto ao forte surgiu uma aldeia, formada no princípio por imigrantes das ilhas Canárias. A economia local se baseava no comércio com o interior e com Buenos Aires. Em 1726 fundou-se a cidade. As medidas liberalizadoras de Carlos III, em 1778, autorizaram o comércio direto entre Montevidéu e os portos espanhóis, e a população começou a crescer rapidamente. Quando Buenos Aires foi invadida pelos britânicos, em 1806, as tropas espanholas baseadas em Montevidéu contra-atacaram e reconquistaram a capital do vice-reino. No ano seguinte, a cidade foi ocupada durante sete meses pelos invasores.

Com o vazio de poder que se produziu na Espanha após a invasão napoleônica, Montevidéu estabeleceu sua própria junta de governo e ignorou a autoridade da junta que se constituíra em Buenos Aires. A rivalidade entre as duas cidades levou Montevidéu a apoiar a metrópole quando Buenos Aires declarou-se independente. A cidade uruguaia, contudo, capitulou em 23 de junho de 1814 ante as forças emancipacionistas.

Em 20 de janeiro de 1817, Montevidéu foi tomada pelo exército português, que a dominou até 1828. Tornada capital da República Oriental do Uruguai, foi objeto de disputas entre facções políticas internas respaldadas por potências estrangeiras e, de 1843 a 1851, durante a chamada guerra grande, sofreu um prolongado assédio. Nesse período, o porto de Montevidéu, protegido por forças inglesas e francesas, incrementou notavelmente sua atividade comercial. Na década de 1850, começaram a ser derrubadas as muralhas que cercavam a cidade. A expansão urbanística que se seguiu transformou-a numa metrópole de primeira ordem.

Ao longo da segunda metade do século XIX, a capital quintuplicou sua população e afirmou-se como centro ferroviário e núcleo principal da indústria transformadora dos produtos agropecuários das áreas rurais do país, sobretudo da carne. Durante décadas, recebeu grandes contingentes de imigrantes italianos e espanhóis. No início do século XX, Montevidéu já era uma grande cidade de mais de 250.000 habitantes. A partir da década de 1930, com a redução da imigração européia, suas indústrias e serviços começaram a atrair mão-de-obra das regiões vizinhas, fato que acentuou o desequilíbrio entre o campo, pouco povoado, e a capital, de alta densidade demográfica. No meado do século XX a cidade ultrapassou o milhão de habitantes e, embora seu crescimento demográfico tenha diminuído em relação à primeira metade do século, concentrava quase metade da população do país.

Economia. As sedes das principais instituições políticas e financeiras do país e do arcebispado estão situadas na capital. A maior parte do comércio exterior uruguaio se efetua pelo porto de Montevidéu, localizado na confluência das redes ferroviária e rodoviária do país. O aeroporto internacional de Carrasco se comunica com as principais cidades européias e americanas e centraliza o tráfego aéreo doméstico. É particularmente intenso o trânsito, por via marítima e aérea, com a capital argentina.

As empresas processadoras de carne, lã e couro -- principais produtos de exportação do Uruguai -- estão concentradas na capital. A essas indústrias se acrescentam fábricas de calçados, produtos têxteis e alimentícios. Existem ainda indústria de cimento, estaleiros, refinarias de petróleo e centrais termoelétricas. As praias de águas tranqüilas e o cassino atraem grande número de turistas, especialmente da Argentina e do Brasil.

Cultura. Desde o início do século XX, todas as crianças de Montevidéu têm acesso à educação, de qualidade equiparável à dos países mais desenvolvidos. O ensino público é gratuito em todos os níveis. Têm sede na cidade a Universidade da República, fundada em 1849, e a Universidade do Trabalho do Uruguai, de 1878. A vida cultural de Montevidéu foi muito intensa desde sua fundação, como testemunha o primeiro teatro, a Casa de Comedias, aberto em 1795. O histórico Teatro Solís data de 1856. Também se encontram na antiga cidade colonial o Museu Histórico Nacional, o Museu Nacional de História Natural, o Museu Nacional de Belas-Artes e a Biblioteca Nacional do Uruguai. Entre os edifícios monumentais destaca-se o palácio legislativo, revestido de mármore. A catedral, situada na cidade velha, começou a ser edificada em 1790. Entre os vários parques que enfeitam a cidade encontram-se o de Batlle y Ordóñez e o Rodó.

Com 1,4 milhão de habitantes, Montevidéu, a capital uruguaia, é algo provinciana, ideal para passeios a pé. Os trajetos convergem para o porto e para o Mercado del Puerto, tendo origem nas cercanias das praças da Independencia e da Matriz -- ou vice-versa. Mesmo com o dólar ensaiando alta, os preços são ultracamaradas em restaurantes e no comércio, onde há artigos artesanais de couro e de lã feitos à moda antiga. E há bons museus, onde antológicos pintores contemporâneos, como Pedro Figari e Joaquín Torres García, exibem a marca de seu gênio.

Quem chega de navio, nota a cidade assentada numa colina de 132 m: essa elevação deve ter dado origem ao nome Montevidéu, cuja tradução-livre seria "eu vi o monte". O velho forte, de 1726, que deu origem à capital, há muito foi destruído.

Ao desembarcar no porto, ou iniciar o passeio por ali, às margens do rio da Prata, o viajante logo encontra um caminho demarcado, que contorna uma imensa loja de produtos artesanais com a marca "Hecho Acá" -- sobretudo objetos decorativos, brinquedos e roupas.

Dessa perspectiva, a segunda parada é o Mercado del Puerto (esquina de Pérez Castellanos e Piedras), onde dezenas de pequenos restaurantes servem "parrillada", o churrasco assado nas lenhas, pescados e o "medio y medio", drinque à base de vinho. Além de algum artesanato, ali é possível encontrar folhetos com o tour feito a pé passando pelas praças mais emblemáticas, por uma série de museus e de casas aristocráticas e por igrejas importantes.

Pólo gastronômico, esse mercado, cuja estrutura de ferro foi ali erguida entre 1865 e 1869, foi uma estação ferroviária, como denuncia o relógio sonolento no seu interior.

Iniciando a subida que, afinal, vai dar na Ciudad Vieja, a igreja de San Francisco, de 1864, na Solis, 1.469, é sede do Museu de Arte Colonial.

Para quem tem fome de história da arte, o Palácio Taranco, de 1907, em estilo francês, na 25 de Mayo, 376, próximo da praça Zabala, leva o nome de seu proprietário original, um comerciante endinheirado cujo acervo originou o Museu de Artes Decorativas. Mais um par de quadras e, perto de Washington e Missiones, fica a Casa de Riveira, mansão do primeiro presidente da República Oriental do Uruguai que hoje abriga o Museu Histórico Nacional. Paralela à Washington, na Sarandí, passa-se ao largo da Matriz, na Ciudad Vieja, onde uma acesa feirinha vende todos os tipos de quinquilharias.

Os registros asseguram que a igreja Matriz, na esquina de Sarandí com Ituzaingó, tem a idade das edificações pioneiras de Montevidéu, de 1726, mas foi reedificada entre 1790 e 1804.

Uma lista de objetos de arte relevantes leva o visitante a observar esculturas e tumbas, o imponente altar-mór e a intrigante imagem de Nossa Senhora que, lavrada em madeira, deve ter sido legada pelos jesuítas por volta de 1725. Mas a peça mais singela e interessante talvez seja a pia batismal de 1753, onde o herói nacional José Gervásio Artigas teria recebido seu primeiro sacramento.
No lado oposto ao da igreja Matriz, na J.C. Gómez, 1.362, o Cabildo, de 1808, hoje abriga o Museu e Arquivo Histórico Municipal. Marco histórico, o prédio abrigou a prefeitura quando a Constituição uruguaia foi promulgada, em 1830.

Travessas do calçadão da Sarandí, onde coexistem galerias de arte, antiquários e uma zona comercial moderna, a travessa Bacacay também foi projetada para pedestres -- e parece perfeita para uma parada. Ali, cafés, restaurantes e livrarias convidam a uma pausa. A próxima parada é o clássico teatro Solís, referência em espetáculos de música erudita. Na esquina de Buenos Aires, Juncal e Reconquista, foi concebido com fachada marmórea em forma de Partenon entre 1842 a 1856, mas teve as alas laterais agregadas em 1869.

Mais duas ou três quadras e chega-se à Puerta de la Ciudadela, na esquina de Sarandí e Juncal, e vislumbra-se a praça Independencia, epicentro da velha cidadela, cujas linhas arquitetônicas remontam a 1836. No meio da praça, fica a estátua eqüestre do general Artigas, de 1923. Limitando o conjunto, nos números 846-848 da praça Independencia, o Palácio Salvo, prédio de residências e escritórios, de 1928, é um arranha-céu paradoxalmente baixo --e lembra um "bolo de noiva".


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